quarta-feira, fevereiro 21, 2007

No café... o silêncio pairava

Hoje, entrei no café. Aquele café, estacionado, com vista para a praia e para o mau tempo que se fazia sentir. Pedi um café. Abri, a revista que tinha acabado de comprar, que me foi roubada por outro utilizador da mesa depois de ter aberto a primeira página. Sem nada puder fazer, observei. A praia, o sol escondido por detrás de umas quantas nuvens que não o deixavam sorrir. Observei as borras do meu café e descobri que não as conseguia ler; pelo menos hoje não iria saber o que o futuro me reservava. Observei as pessoas. Na mesa ao meu lado estava uma mulher com os seus dois filhos que não falavam, apenas comiam. Estavam quatro casais no café e mais ninguém. Reparei então nos casais. Três deles eram um casal (com aliança, abençoados pelo Nosso Senhor) e um casal de namorados. O único casal que comunicava verbalmente era o casal de namorados. E os outros? Sentaram-se e passaram todos aqueles minutos dentro do café calados. Porquê? Será que se fartaram uns dos outros? Devem passar os dias todos juntos. A magia do casamento passou. Mas será que eles ainda gostam uns dos outros, ou apenas estão juntos apenas para não ficarem sozinhos. Será que se habituaram à vida de casal, a ter uma pessoa quando chegassem a casa, a ter alguém com quem ir passar as férias, a ter alguém com quem partilhar as despesas? Será que apenas estão juntos por isso? Por conveniência? Porque dá jeito? Aquele silêncio estaria a pairar porque já não havia mais nada para falar? Já estaria tudo mostrado? Tudo falado? Seriam aquelas pessoas felizes? Teriam aquelas pessoas amigos, ou apenas se teriam um ao outro? Será que apenas estão juntos porque não querem ficar sós?
Sou apenas um “miúdo”. Não tenho amigos casados. Estamos todos sempre disponíveis, para sair, para nos divertirmos. A nossa única obrigação é a faculdade, os estudos, a formação. Mas vejo pelas relações das pessoas mais velhas, casadas e com filhos, que deixam de sair tanto, de se divertir tanto. Tem outros compromissos. Outras responsabilidades. E será que é razoável deixar tudo, para ter uma vida a dois? Será isso melhor? Será que estarei disposto a abdicar de tudo isto por uma silenciosa conversa de café? E se não estiver? E se for só eu? E se quando chegar à idade daqueles casais que estavam no café e estiver sozinho? Será que vou ter amigos a quem telefonar que não me digam “Desculpa, não posso. Estou a mudar a fralda ao miúdo e tenho que o pôr a dormir”. Será que são estas as respostas que os solteiros de trinta anos ouvem? Será que é disso que aqueles casais silenciosos têm medo? Da solidão? Do abandono? Estão dispostos a fazer o sacrifício de beber um café sem falar para não ter que ouvir a famosa frase da fralda e do bebé que não dorme? Será por isso que não falavam mas estavam juntos? Por terem medo?

Não quero crescer. Porquê crescer? Os adultos são uma seca. Vestem-se de cores escuras e apenas arranjam um par por conveniência. Não quero crescer. Mas quando abro o meu roupeiro as t-shirts cor-de-laranja e amarelas já são da estação passada. Agora vejo roxo, castanho e verde-escuro. Mas não é assim que me sinto por dentro. Não é assim que me sinto obrigado a ser. Quero ser azul, amarelo, verde, laranja, rosa, vermelho…Tenho medo de crescer. Estou preso na história do peter-pan. E se de facto não existir a terra do nunca? E se esse lugar somos nós que o fazemos? Então o melhor mesmo é ir para ele antes que o roupeiro seja um monte de roupa cinzenta.

5 comentários:

Rute disse...

É horrível né Tiago? E ainda andas tu na faculdade! Eu convivo diariamente com adultos. É estranho! Adoro estar com os meus sobrinhos e fazer palhaçadas! Adoro estar com os meus amigos e não fazer nenhum!

Tenho mais medo que nunca dos compromissos. As pessoas não são verdadeiras. Porque é que mentem tanto? Tanta aldrabisse!!! E é verdade, passado pouco tempo, passa-se a ser o casal calado no café. Que muitas das vezes está calado porque senão discute!

Não quero ser assim!!! Estou farta das responsabilidades que a vida laboral traz. Estou farta de todos os medos adultos! Quero voltar aos medos de criança! Hoje olho para trás... Tudo tão fácil! Porque é que tem de ser assim? Porque temos sempre de pensar tanto? E porque é que as coisas agora nos magoam tanto?!

O que vale é que conto com vocês, contigo! Amigos que me fazem viver na minha terra do nunca! Voar como o Peter Pan! Obrigada por me ajudares e fazeres parte do meu mundo mágico ;)

DRT migo****

Anónimo disse...

É-se adulto porque se cresceu, se não na cabeça, pelo menos na idade... É verdade, os casais adultos muitas vezes calam-se para não discutirem! Mas quando se chega a esse ponto... Será que vale a pena estarem juntos? Valerá a pena sacrificarem uma vida quiçá feliz com outra pessoa, apenas para terem a segurança duma companhia?

Ainda assim, os amigos não se esquecem, mesmo quando nos "tornamos" adultos. Aqueles que sempre o foram cá continuam. Com mais fraldas para trocar ou mais biberões para aquecer. É uma questão de gestão de tempo!

E Titi, tu que estás em Gestão... Podias ajudar os teus futuros amigos adultos a gerir o tempo!! =P

Abraços [[[]]]

Ana Pena disse...

Eu n sei até que ponto isto tem a ver... mas li uma vez uma coisa num livro que gostei mto e dizia algo do género: para um casal ser feliz cada uma das partes não pode abdicar das coisas que gosta de fazer, em prol da relação. Num casal feliz ambos fazem aquilo que os faz feliz e ambos gostem que o outro o faça.

Por isso as privações que mts vezes as responsabilidades de uma vida a dois, uma família, filhos etc trazem acaba por roer a relação...mesmo que ambos gostem mt um do outro. Cada indivíduo tem a sua identidade, os seus gostos, a sua personalidade e não querendo que isto seja entendido de um ponto de vista egoísta, cada pessoa se deve preocupar acima de tudo com aquilo que a faz feliz, mesmo numa relação!

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e.t. disse...

Aii Tiaguinhoo, meteste-me mesmo a pensar. Tambem não quero ser adulto, ter responsabilidades e estar sozinhoo.
Eu tou mesmo a acabar o meu curso...e a seguir terei que dar o tal passo em caminho de uma responsabilidade maior por mim mesmo e pela minha vida. É bem mais fácil, como já disseram, ser-se pequenino, ter quem olhe por nós..
A vida adulta só trás medos, responsabilidades, maiores lutas...enfim...muita coisa...E nem sempre é fácil de gerir tudo. Tem que se arranjar e manter um emprego (que com o estado actual do país cada vez é mais complicado)...e depois ainda há a parte de não se querer estar sozinho...
Acabado o curso vai-se pa longe dos amigos...cada um segue para seu lado...enfim...coisas que dão que pensar.
A certa altura é como relataste, chega-se ou á situação do dito café ou então á situação do solteirão de 30 ou 40 anos...
...tambem não quero ser adultoo!! =(

Hugzzz...seu mau, k metes as pessoas a pensar nestas coisassss

Tiago disse...

e.t., correção: vai-se para longe dos colegas, não para longe dos amigos!

Adonde é que voces andam?