sábado, agosto 23, 2008

Crítica social

Deito-me no sofá e começo por fazer o primeiro zaping da noite.
Fico chocado quando vejo que na RTP1 está a dar uma tourada. O cavaleiro, julgando-se muito homem espeta farpa atrás de farpa nas costas do touro que seguindo os seus instintos continua a correr.
O publico aplaude, como macacos, efusivo de cada vez que se fere o touro. De seguida entram os forcados. Homens másculos e destemidos aos olhos dos espectadores. Pegam no touro já ferido e sofrido depois de uma mutilação consentida por centenas de pessoas que se excitam com o sofrimento do animal.

Sabem, em alguns momentos penso que Portugal é um país desenvolvido, com pessoas liberais, inovadoras e pró-activas e entristece-me bastante ver que estes portugueses que eu idealizo não são os portugueses que habitam o país que eu amo.
Portugal está cheio de pessoas retrógradas agarradas a costumes, tradições e conceitos pré-concebidos pelos quais regem as suas patéticas vidas.

Portugueses que exigem o melhor dos outros mas não exigem o melhor de si mesmos. Portugueses que lançam criticas destemidas aos atletas portugueses olímpicos que não venceram nenhuma medalha e que se esforçaram ao máximo para poderem estar em Pequim. São os portugueses que os insultam que não mexem um musculo mais depressa para trabalhar.
Incomoda-me o mediatismo dado ao Nelson Évora (bem merecido) e à falta de apoio dado a tantos outros que bem se esforçaram. Os atletas saíram de Portugal com o apoio de "ahh e tal, tens o meu apoio, mas apenas se trouxeres para Portugal uma medalhinha. E vê lá se é de ouro, que não te tentem os chineses enganar com pexibeque".
Cansa-me ver que apenas se valorizam os bons resultados e é completamente posto de parte o esforço empenhado.

Incomoda-me ver que o povo português está constantemente revoltado com o governo actual. Já o esteve com o governo passado e estará certamente com o futuro. A maioria destas pessoas não sabem sequer por que é que estão revoltadas. "É a vida que está mal. É o desemprego. É o poder de compra. É a chuva". O que lhes(nos) custa a compreender é que o é agora e o será no futuro. Apenas o deixará de ser quando todos se empenharem numa mudança. Quando o povo começar a acreditar que mudar é possível. Mas será que os portugueses querem mesmo mudar? É característica da cultura portuguesa uma constante mutilação com os factos da sociedade. "Credo, o desemprego está tão alto; Jasus, os despedimentos que praí vão; o governo fez um acordo que vai permitir o fabrico de carros ecológicos em Portugal aumentando assim o número de exportações e consequentemente o PIB e ajudando ao melhoramento da economia? Quero lá saber disso. Eu quero é ler o correio da manhã que hoje parece que há um velhinho que morreu porque espirrou com muita força."
Quando é que Portugal tem uma oposição a sério? Uma oposição, que se pronuncia quando de facto existe razão para isso? Que apresenta soluções em vez de apenas enumerar os óbvios problemas? Quando elogia o governo pelas boas decisões que tomou? Ao que parece nunca! O poder é mais importante que o país em si.

Não são todos os portugueses. Felizmente existem muitos portugueses que marcam pela diferença. Portugueses que desprendidos de um Portugal antigo vivem como perfeitos portugueses inseridos num mundo moderno e com vontade de vencer! Portugueses que são o futuro.

Peço desculpa pelo desabafo... hoje sinto-me menos português.

... e para terminar, um anuncio publicitário, que na minha opinião é dos melhores alguma vez feitos em Portugal

Acção Animal



2 comentários:

GotchyaYinYang disse...

Já conhecia este anúncio e esta associação que tanto suor larga para combater o que nunca se esperava que fosse preciso combater: coisas que deveriam ser completamente lógicas a todos os seres humanos e que infelizmente não o são, porque as pessoas já não são capazes de parar e pensar... porque já não têm cérebro... porque só têm um autómato no seu lugar, programado para cagar em tudo o que diz respeito ao desenvolvimento sustentável e premissas que o acarretam (direitos humanos, direitos dos animais, consciência ecológica).

É por isso que tenho vergonha de pertencer a esta espécie, a única que inflige conscientemente sofrimento por razões lúdicas e que despreza conhecimentos mais do que provados. Que prefere fechar os olhos, porque "longe da vista, longe do coração", e assim continua a sua vidinha com o seu umbigo, contente e feliz.

É triste, é a realidade e é por isso mesmo que devemos continuar a lutar. Para que as gerações futuras não vejam este espectáculo degradante. Para que haja respeito pela natureza, para que se trate o mundo como um jardim cheio de cores, e não como uma sanita cheia de merda.

Só se consegue dizer mal e nada fazer, nem pensar no que está a ser feito...

Miguel Noite disse...

Concordo perfeitamente!
Em pleno horário nobre, passar horas e horas de tourada... Tradições antigas sem cabimento nenhum realmente
Adorei o video!
Vou ao site!

Adonde é que voces andam?