«Ora, em meu entender, o que se passa é o seguinte: como ficou dito de início, o amor não tem uma natureza simples, bela ou feia sem si mesma: é belo, se realizado com beleza, e feio, se realizado com vileza. Vileza, é quando se concede uma afeição indigna a um homem indigno; e nobreza, quando se concede uma afeição digna a um homem de bem. E por indigno entendemos justamente esse amante popular, que prefere o amor do corpo ao amor da alma, e não guarda constância porque o objecto a que se prende não é também constante.
(...) Pelo contrário, aquele que ama alguém pela beleza do seu carácter, esse permanece fiel pela vida fora, porque se funde com o que é constante.»
Mas eu continuo a perguntar se o amor existe; aquele amor que «permanece fiel pela vida fora». Quantas vezes não foi já o verbo amor conjugado no passado?
Ao que parece, amor não é algo eterno e nem o fará sentido ser visto que o próprio ser humano não é «constante» e assim sendo não será o amor também.
«O que Santo Agostinho diz sobre o tempo vale também para o amor. Quanto menos reflectimos sobre ele, mais ele parece explicar-se por sim mesmo; mas, se começarmos a cismar nele, ficaremos completamente desorientados»
(...) Pelo contrário, aquele que ama alguém pela beleza do seu carácter, esse permanece fiel pela vida fora, porque se funde com o que é constante.»
em O Banquete de Platão
Mas eu continuo a perguntar se o amor existe; aquele amor que «permanece fiel pela vida fora». Quantas vezes não foi já o verbo amor conjugado no passado?
Ao que parece, amor não é algo eterno e nem o fará sentido ser visto que o próprio ser humano não é «constante» e assim sendo não será o amor também.
«O que Santo Agostinho diz sobre o tempo vale também para o amor. Quanto menos reflectimos sobre ele, mais ele parece explicar-se por sim mesmo; mas, se começarmos a cismar nele, ficaremos completamente desorientados»
em Sobre o Amor e a Morte de Patrick Süskind
11 comentários:
As palavras definem demasiada coisa. As palavras vêm da razão. A razão apenas nos prende a nós próprios.
Por que tanta pergunta? Para que saber se o amor é eterno ou não? Porque não lutar por ele apenas? O aqui e agora é o que existe. O passado fez de nós quem somos, o futuro ninguém sabe. O que importa é o presente.
A inconstância do ser humano apenas torna mais belo o maior sentimento que podes sentir por alguem.
A existencia do amor eterno cabe apenas a ti descobrir. Se ele existe realmente para ti.
O amor é uma questão de fé. Só somos capazes de amar se acreditarmos no que sentimos. E acreditar é um acto de coragem...talvez por isso não seja nada fácil amar...
E as coisas humanas não são eternas, já que o próprio homem não o é. Mas se dermos importância a esta evidência, mais vale que nos matemos logo. Pois se o raciocínio for "não vale a pena amar porque o amor não dura para sempre", então a lógica leva ao raciocínio paralelo "não vale a pena viver porque a vida não dura para sempre".
:)
Eu também não acredito no amor eterno. Mas acho que, tal como o Firefly diz, o importante é viver o presente :)
Para quê definir o amor? Vive-o.
... quando descobrires ... por favor avisa!
Concordo com o Adomnán.
O amor é uma questão de fé! De não pensamento, de sentir! Simplesmente, sem porquês. Eterno ou não, quem sabe, só quem o sentiu e está no fim da vida é que tem certezas. Quanto a nós basta-nos sentir, sem o questionar, sermos felizes e agradecer o que nos é dado. Pois nem todos o aceitam, nem todos são contemplados em senti-lo. Apenas porque não querem, porque perderam a fé nele ou preferem paixões e noites unas sem sentido.
Há coisas sobre as quais, na minha opinião, não interessa "filosofar", já que a natureza intrinseca não é racional mas passional. E que eu saiba, nunca a razão conseguiu explicar o porquê e o como do amor.
De qualquer modo, é preciso ver as coisas de um modo mais abrangente... há vários tipos de amor, e sem dúvida que alguns duram toda a vida (como por exemplo a amizade, o amor de mãe, etc)... e embora tenha percebido que o teu post era sobre um tipo mais específico, também é sempre preciso fazer a distinção entre "paixão" e "amor"... a "paixão" realmente nunca dura muito porque é uma fase de deslumbramento... o "amor" é algo que implica maior conhecimento e longevidade. De qualquer modo, e tal como em relação à maioria das coisas, nunca há garantia do tempo que vai durar... se bem que também não me parece que seja algo que simplesmente deixa de existir de um dia para o outro, e se relaciona mais com duas pessoas evoluírem em direcções diferentes... De qualquer das formas, e como já disseram antes de mim, o melhor é aproveitar enquanto ele existe.
Adomnán faço-te uma vénia... o amor é uma questão de fé e acreditar é um acto de coragem! Acho que tudo o resto para além disto é supérfluo...
Bem, já vi que o tema amor é um tema polémico. O meu problema com a palavra amor é que não a consigo dissociar de eterno, seja lá o que eterno queira dizer. Mas mais vale viver o agora e o presente como todos disseram.
Merchi, vai esperando sentado que isto ainda demora.
Não se pode explicar o amor. Cada pessoa sente-o à sua maneira e não vale a pena tentar definir uma coisa que é por si própria indefinível.
Como diz o Zeh, paixão e amor são coisas diferentes que raramente se misturam mas em que uma representa a evolução da outra. Mas fará sentido viver amor sem viver paixão? E é isso sustentável? Não sei a resposta.
Como diz o Adomnán, amor é um acto de coragem e acima de fé. Estas perguntas apenas vêm complicar o caminho que se tem a percorrer. Por isso não faz mesmo sentido reflectir sobre o amor.
Por isso meus caros vos digo, vocês conseguem definir amor tão bem como eu!
E como diria Platão: Vão mas é chupar umas línguas e deixem-se de merdas. pfffff, cambada!
Olha, é assim .. o que eu gostei mesmo foi do quadro todo "possui-me por detrás"!
Tenho dito...
O amor eterno é uma utopia infeliz que tem vindo a ser vendida desde um tempo loguinquo. Acreditar nela é retirar ao amor a sua essência mais especial.
O amor não é eterno porque é constante. É um hoje, um amanha e um ontem. Uma construcção continua.
Ser eterno faria do amor algo sem graça, sem magia, sem felicidade, sem vida. Eternidade é uma página fechada. O amor é um livro que se escreve ao sabor do tempo.
Nada de garantias, sempre um desafio. "Will you love me tomorrow?" =)
Stay Well
Que bela pintura do Egon Schiele!
Enviar um comentário